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Projeto incentiva o reaproveitamento da manipueira em cultivos agrícolas

Projeto incentiva o reaproveitamento da manipueira em cultivos agrícolas

Experimentos: cultivo de alface irrigado com manipueira. Foto: Acervo do projeto.

Popularmente conhecida como tucupi, a manipueira é o resíduo líquido resultante da produção de farinha de mandioca ou de tapioca que, no Pará, geralmente é realizada em pequenas comunidades e propriedades rurais, no âmbito da agricultura familiar. Apesar de ser bastante apreciado na culinária tradicional paraense, parte considerável desse líquido não é comercializada, sendo descartada, de forma inadequada e sem tratamento, em solos, rios e igarapés.

Para mudar esse cenário, evitando assim a contaminação do meio ambiente, o professor Eloi Gasparin, do curso de Agronomia da Ufopa, vem desenvolvendo, desde 2014, projeto de extensão voltado para o tratamento e o reaproveitamento da manipueira em cultivos agrícolas, como água de irrigação e biofertilizante. O projeto é realizado na comunidade de Boa Esperança, situada na Rodovia Curuá-Una, zona rural de Santarém (PA), em parceria com o Time Enactus Ufopa, através do Projeto Manipirão, e a Cooperativa de Boa Esperança (Coopboa), que congrega produtores de mandioca. "A comunidade de Boa Esperança é referência no Pará no cultivo de mandioca e na fabricação artesanal de farinha", explica Eloi Gasparin.

Na primeira fase do projeto, que contou com a participação das bolsistas Pibex Ana Cecília de Moura Costa e Natália Neves de Lima, foram realizados experimentos, em uma propriedade rural da comunidade, com o cultivo de alface, utilizando a manipueira como água de irrigação. "Testamos na alface porque é uma cultura bem sensível”, afirma Gasparin.

Um dos aspectos avaliados foi a toxidade da manipueira, com destaque para os efeitos nocivos do ácido cianídrico, substância venenosa presente na mandioca. A manipueira foi testada pura e diluída com água, nas seguintes proporções: 75% de tucupi; 50% de tucupi; e 25% de tucupi. "Verificamos que até a medida de 50% de tucupi, o cultivo de alface se desenvolveu normalmente", esclarece o professor da Ufopa.

Biofertilizante – A próxima etapa do projeto, que contará com a participação dos bolsistas Pibex Ricardo Fellini de Sá Ventura e Brenda Katriny Silva dos Santos, focará a produção de biofertilizante a partir da fermentação da manipueira em biodigestores (reatores), que serão instalados em propriedades rurais como unidades de demonstração.

Por meio de novos experimentos, será verificado o tempo de fermentação adequado para a transformação da manipueira em biofertilizante ou biogás, o que ocorrerá em reatores por meio da diminuição da demanda biológica de oxigênio (DBO). Os testes serão realizados em dois tipos de reatores: anaeróbico, que é fechado para evitar o contato com ar atmosférico; e o aeróbico, que é aberto.

O reator anaeróbico é um biodigestor utilizado pra gerar o biofertilizante e também o biogás, podendo assim reduzir custos com a aquisição de madeira para a queima (torra) da farinha. "Porém, se o biogás não for queimado, o metano, componente gerado em maior quantidade, pode se transformar em um agente nocivo, pois é aproximadamente 21 vezes mais prejudicial ao meio ambiente que o gás carbônico", explica Gasparin. Mais simples, o reator aeróbico produz o biofertilizante com a presença de oxigênio, porém libera naturalmente o gás metano na atmosfera.

Em ambos os reatores, é interessante a adição de esterco fresco de bovino, que contém as bactérias responsáveis pela fermentação da manipueira. “Em termos ambientais, o melhor é o biodigestor anaeróbico, porque resulta em um produto já estabilizado em termos de reações químicas”, explica Gasparin. “A substância final (biofertilizante) permanece no estado líquido, mas agrega a qualidade de adubo sem agredir o solo e a cultura”.

Maria Lúcia Morais - Comunicação/Ufopa

13/4/2016

Manipueira - Foto: Acervo do Projeto.