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Estudantes e professores participam de cursos de línguas indígenas

Estudantes e professores participam de cursos de línguas indígenas

Além do ensino da língua, as aulas abordam aspectos históricos e culturais - Foto: Luena Barros.

Aprendizado de nheengatu e mundurucu faz parte da política de ações afirmativas da UFOPA

Durante o mês de janeiro de 2015, mais de 90 professores e estudantes indígenas e não indígenas participam dos cursos de nheengatu e mundurucu, promovidos pelo Grupo Consciência Índigena (GCI) e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Esta é a segunda vez que os cursos são ofertados, com turmas para iniciantes e concluintes, com carga horária total de 360 horas.

A professora Maria Silvia Martins, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que acompanhou a primeira semana de aulas, destacou as ações afirmativas da UFOPA no sentido de valorizar as culturas indígenas. “É muito importante esse trabalho de motivar as populações a se identificarem como indígenas e a aprenderem as línguas. Faz parte de um momento interessante que nós estamos vivendo no Brasil, de recuperação da identidade indígena”, declarou.

Nheengatu – Ministrado pelos professores Agripino Nogueira Neto, da etnia baré, do Amazonas, e Antônio Neto, mestrando em Letras da Universidade de São Paulo (USP), o curso de nheengatu busca incentivar o resgate e uso da língua. “Houve uma política de esquecimento das línguas no país, mas quando a gente faz esse trabalho de revitalização linguística, tentamos fazer esse resgate, conversar com os mais velhos e mostrar que essa lembrança é positiva”, explica Antonio Neto.

O nheengatu é uma língua ameaçada de extinção. Sua origem provém do tupi antigo, usada pelos indígenas tupinambás à época que os colonizadores europeus chegaram ao Brasil. É também chamada de língua geral amazônica, por ter sido usada na frente de expansão durante a colonização no Norte do país. Ainda é falada por doze etnias, cuja maioria está localizada ao longo dos rios Arapiuns e Tapajós.

Ao final do curso avançado, os alunos elaborarão um livro didático bilíngue para ser usado nas escolas indígenas do Baixo Tapajós. Agripino Neto explica que, apesar de ser uma língua bastante documentada, essa será a primeira publicação no idioma feita no Pará. “Saber a cultura e a história da língua motiva a fazer esse resgate, que está querendo ressurgir de uma forma espetacular com o esforço das pessoas daqui”, afirma o professor.

Mundurucu – O curso de mundurucu é ministrado pelos estudantes da UFOPA Jair Boro e Mayke Krixi, e pelos indígenas Flávio Kaba e José Wilson, das aldeias Missão e Cururu. Todos são falantes nativos da língua. Para Flávio Kaba, o curso é uma oportunidade de apresentar aos alunos, a maioria não indígena, a cultura do seu povo: “Estamos sempre estudando e acompanhando a nossa história. Nós, mundurucu, ainda falamos a língua. Nós aprendemos com nossos avós e nossos pais. Agora nós estamos ensinando”.

Atualmente, os mundurucus estão concentrados no Amazonas, Pará e Mato Grosso. No Pará, as aldeias estão localizadas ao longo do rio Tapajós, nos municípios de Santarém, Belterra, Itaituba e Jacareacanga. Segundo os historiadores, apesar do processo de homogeneização linguística promovido pelos colonizadores com o nheengatu, algumas aldeias mundurucus não sofreram influências e puderam manter sua língua.

Luena Barros – Comunicação/UFOPA

14/1/2015