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Cerimônia indígena marca encerramento de curso de línguas

Cerimônia indígena marca encerramento de curso de línguas

Ritual marca encerramento dos cursos, 31/7/2014 - Foto: Maria Lúcia Morais

Um ritual indígena de proteção e de agradecimento marcou a cerimônia de encerramento dos cursos das línguas indígenas mundurucu e nheengatu, promovidos pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em parceria com o movimento indígena, durante o mês de julho. A formatura dos 73 alunos que participaram dos cursos aconteceu no dia 31 de julho de 2014, no Centro Indígena Maíra, em Santarém (PA).

O evento marcou o encerramento da primeira etapa dos cursos, em que foi repassada a formação básica da gramática, pronúncia e lógica própria de cada língua. O diretor de Ações Afirmativas da UFOPA, Florêncio Vaz, fez um balanço positivo sobre a realização dos cursos. “Foi um tempo muito bom. Os alunos gostaram muito. Os professores ficaram surpresos com o interesse dos alunos em aprender essas línguas. Fiquei muito feliz com essa receptividade”, afirmou. “É significativo que hoje, a partir do apoio da UFOPA, uma instituição do Estado, nós tenhamos a revalorização dessas línguas, que é a linguagem dos povos daqui, dos indígenas”.

O aprendizado foi muito bom. Até mesmo para mim, como falante de raiz, foi muito interessante ensinar e aprender também”, afirma o professor Agripino Nogueira, que veio do município de Barcelos, no estado do Amazonas, para ministrar o curso de nheengatu. “Foi muito gratificante perceber que os alunos iniciantes conseguiram falar algumas palavras em nheengatu”.

Na segunda etapa, que será realizada em janeiro de 2015, os alunos receberão uma formação mais completa e aprofundada, com a qual poderão se tornar professores destes idiomas. “A nossa perspectiva é a de que, a partir de agora, a nossa parceria com o movimento indígena seja melhor organizada, e que os nossos alunos indígenas e professores possam se envolver mais nesse processo”, afirma Florêncio Vaz.

Nheengatu - Apesar de ter a língua como destaque, o curso também enfatizou outras características culturais e buscou valorizar, de forma geral, as etnias indígenas da Amazônia. “Não foi apenas aprender tecnicamente uma língua. Foi fazer uma volta na identidade e história indígena, porque são línguas que já foram faladas fluentemente em Santarém. Até o início do século 20, o nheengatu era a língua que se falava nas feiras, nas ruas, e foi com o avanço da educação formal e da repressão que essa língua foi sendo esquecida”, explica Florêncio.

Acho importante o resgate da língua nheengatu. É uma tentativa de se buscar as nossas origens. A influência do tupi na sociedade brasileira é muito forte”, afirma o engenheiro florestal Carlos Nascimento, que participou do curso de nheengatu. “Esse curso me fez refletir e mergulhar nas minhas origens e tentar entender um pouco mais a cultura indígena”.

O mundurucu também era falado em todo o vale do rio Tapajós e ainda é usado fluentemente no médio e alto Tapajós. Também há aldeias no baixo Tapajós que estão em processo de aprendizagem da língua mundurucu. “Foi uma experiência nova, pois pude reviver o que vivi antes e fiz muitas amizades”, afirma Mike Krixi, que ministrou o curso de mundurucu. Natural de Jacareacanga (PA), Mike Krixi é aluno indígena da UFOPA, onde cursa agronomia. “Espero que em janeiro do próximo ano eu possa continuar como professor da língua mundurucu, para que eu possa repassar o que eu sei para os alunos”.

Os cursos de línguas indígenas são uma iniciativa da UFOPA, através do Programa de Extensão “Patrimônio Cultural na Amazônia” e do Grupo Consciência Indígena. A atividade contou ainda com o apoio das pró-reitorias da Comunidade, Cultura e Extensão (PROCCE) e de Gestão Estudantil (PROGES), do Conselho de Indígenas dos rios Tapajós e Arapiuns, da Rádio Rural de Santarém, da Associação dos Frades Menores na Amazônia e da Associação Indígena do Município de Barcelos (AM).

Comunicação/UFOPA

5/8/2014

 

 

Turmas de mundurucu (acima) e nheengatu no encerramento dos cursos - Foto: Maria Lúcia Morais, 31/7/2014.