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Histórias e formas alternativas de existência foram temas de debate na UFOPA

Histórias e formas alternativas de existência foram temas de debate na UFOPA

O encontro reuniu estudantes e professores da UFOPA. Fotos: Talita Baena

Historiadores relatam resistências de povos escravizados durante o I Encontro de História do Baixo Amazonas na UFOPA

Novas formas de existência: índios cristãos no mundo colonial. Esse foi o tema da palestra do historiador Almir Diniz Júnior (UFAM) durante mesa-redonda “Escravidão, Trabalho e Território na Amazônia” do I Encontro de História do Baixo Amazonas, realizado pelo curso de história da UFOPA. O professor da UFOPA Luiz Laurindo também participou do debate com a comunicação “Escravidão e extrativismo no Pará oitocentista: algumas evidências problemáticas”. Já a professora Vanice Melo falou sobre as “guerras justas” como mecanismos de escravização de indígenas, as quais ocorriam nas capitanias do Maranhão e Piauí no período colonial.

Uma das questões que permeou o debate foi a ideia de resistência dos povos que sofreram a escravidão na história colonial do Brasil. No entanto, para o historiador Almir Diniz, é preciso pensar a resistência desses povos não de forma cristalizada, como um retorno a uma raiz étnica. “O conceito de resistência é um pouco complicado, quando nós o pensamos como uma resistência, um retorno à raiz étnica, uma ideia de cristalização, como se o índio, para continuar a existir, estivesse que continuar usando pena, penacho, plumas ou os riscos corporais”, argumenta. Ainda de acordo com Almir Diniz, a questão vai além. “Não é isso. É mais profundo do que isso. As formas de existência significam formas alternativas de vida, que foram criadas por essas populações através de sua agência, de uma forma criativa, que desenvolveram”, explica.

A índia Sabina

Um exemplo dessa forma alternativa de existência é a história de vida da índia Sabina, acusada de prática de feitiçaria, pelo Tribunal da Inquisição de Lisboa, que em 1783 fez uma visita ao Grão-Pará e Maranhão. “Durante a permanência desse Tribunal, muitas acusações vieram à tona, uma delas era sobre essa índia. E ao ler o processo sobre ela, percebem-se as formas inusitadas e criativas que essa personagem, que era índia, mas índia cristã, batizada pela Igreja, utilizava para curar”, conta Almir Diniz.

Os poderes e as curas da índia Sabina são relatados pelo historiador em sua tese “Índios cristãos: a conversão dos gentios na Amazônia portuguesa (1653-1769)”. Para o autor, a índia resistiu, deixou de ser escrava e livrou-se do Tribunal da Inquisição graças a uma forma distinta de existência. “Usando tanto referências das suas crenças tradicionais, suas rezas, suas ervas, seus rituais, quanto as referências do cristianismo que ela ressignificou, transformou de uma forma distinta. Então, ao mesmo tempo que ela fazia chupações, usava fumaça, ela pedia para o paciente fazer exorcismos, e era paga com varas de algodão. E foi exatamente com as varas de algodão que, possivelmente, ela comprou a sua liberdade, pois quando a encontrei na documentação ela era escrava de um senhor. Anos depois, ela não era mais escrava, então, é muito provável que ela tenha utilizado esse seu talento para curar, desfazer feitiços para não ser presa, pois um de seus clientes era o próprio governador do Grão-Pará e Maranhão”, conclui.

A tese “Índios cristãos: a conversão dos gentios na Amazônia portuguesa (1653-1769)” do historiador da UFAM está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp, e pode ser acessada aqui.

Talita Baena – Comunicação/UFOPA

9/12/2014