Pesquisa de beneficiamento de galhos é apresentada em evento internacional
O estudo desenvolvido pela UFOPA otimizou manejo florestal na Flona do Tapajós
Um processo inovador permitiu o aproveitamento de galhos de árvores amazônicas, que antes eram desperdiçados e atrapalhavam a regeneração florestal. Durante dois anos, os professores João Ricardo Gama e Renato Ribeiro, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), desenvolveram métodos de quantificação, extração e beneficiamento da galhada para utilização pelo setor moveleiro. A pesquisa será apresentada no I Encontro Internacional de Inovação e Transferência de Tecnologia da Amazônia Oriental – ITT Amazônia nos dias 2 e 3 de dezembro de 2014 na Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), em Belém (PA).
A pesquisa foi realizada nas Unidades de Produção Anual 5 e 7 da Cooperativa Mista da Flona Tapajós (Coomflona), que realiza o manejo florestal na Floresta Nacional do Tapajós. Ali, os pesquisadores optaram por um cálculo, mais preciso, do volume dos galhos com circunferência a partir de 50 cm de cada árvore a ser retirada.
Com isso, concluíram que a cada 10 m³ de madeira em tora, 3,8 m³ de resíduos florestais poderiam ser aproveitados para a movelaria. “Nós aumentamos o rendimento das árvores. Além do aproveitamento do fuste (tronco), nós passamos ao aproveitamento dos galhos. Com isso, aumentamos o valor agregado da árvore”, afirma João Ricardo.
Uma descoberta surpreendente é que o rendimento do resíduo é 70% superior ao rendimento da tora. Depois de serrada, apenas 30% da madeira da tora é utilizada, enquanto que, no caso dos galhos, 53%.
Em 2015, a Coomflona deve produzir 7 mil m³ de resíduos beneficiados. Esse potencial já rendeu à cooperativa uma parceria com a empresa Tramontina para fornecer insumos para a produção de utensílios, já que as movelarias da Flona não conseguem absorver tanta produção.
“O grande benefício social é a geração de empregos. Só esse processo de aproveitamento de galhada vai gerar em torno de 25 a 30 postos de trabalho na cooperativa. Aumentamos a demanda de mão de obra na cooperativa, que utiliza exclusivamente comunitários da Floresta Nacional do Tapajós”, destaca o pesquisador.
Além desse estudo, o ITT Amazônia reúne outros produtos e serviços tecnológicos desenvolvidos na região amazônica com o objetivo de promover a transferência dessas tecnologias às empresas e organizações nacionais e internacionais. O encontro é uma promoção da Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica da Amazônia Oriental (Rede Namor), formada pela UFOPA e outras onze instituições de ensino e pesquisa que atuam na região. A coordenação da Rede Namor é do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Sustentabilidade – Para reduzir ao mínimo o impacto ambiental, toda a 'galhada' é beneficiada dentro da floresta. São usadas serrarias portáteis, mais comuns no Sul e Sudeste do país para a serragem de eucalipto, que são estruturas facilmente montáveis. No local da derruba, os galhos finos são espalhados no solo, facilitando o processo de decomposição e o crescimento de mudas na floresta.
O pesquisador destaca que uma alternativa comum dada aos resíduos do manejo florestal é a produção de carvão. Porém, dessa forma parte da biomassa da floresta é retirada: “O solo da Amazônia é pobre. Quem sustenta a floresta é a floresta. As folhas caem, apodrecem e os minerais voltam ao para o solo. Se você tira tudo, está diminuindo a fertilidade da floresta”, explica.
Novas pesquisas – A fase atual do projeto pretende identificar e medir os impactos ambientais gerados pelo processo de aproveitamento, que podem ser positivos e negativos. João Ricardo destaca que um dos impactos positivos já conhecidos é a aceleração da regeneração natural, mas ainda é preciso saber o quanto isso representa na dinâmica florestal. Por outro lado, um dos impactos negativos é a quantidade de resíduos gerados pela serragem dos galhos. Resta agora propor alternativas para minimizar esses impactos e melhorar o sistema de manejo de aproveitamento de resíduos florestais.
Luena Barros – Comunicação/UFOPA
25/11/2014
A galhada é serrada dentro da floresta.
Tratores retiram galhos e troncos do manejo. Fotos: Prof. João Ricardo Gama.