Pesquisadora alerta para a produção segura de fitoterápicos no Brasil
Os desafios da pesquisa e da produção de medicamentos fitoterápicos eficientes e seguros no Brasil foram apresentados pela Profa. Dra. Alexandra Sawaya, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para alunos de graduação da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
“Uma grande quantidade de pessoas no Brasil faz uso de plantas medicinais devido ao baixo custo e por ser uma prática culturalmente aceita. Além do uso terapêutico, essas plantas servem de inspiração para novos medicamentos”, afirmou a docente, que atua nas áreas de Farmacobotânica e Farmacognosia, durante sua palestra, ocorrida na tarde de ontem, 22 de setembro de 2014, no Auditório do Câmpus Tapajós, em Santarém (PA).
A convite do Prof. Lauro Barata, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF) e coordenador do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais Bioativos (P&DBIO) da UFOPA, Alexandra Sawaya falou sobre a importância da identificação correta e do manejo das espécies medicinais para a produção de remédios seguros. “Tanto a identificação como o manejo, seja o cultivo, a maneira de secar a planta e de extração, vão afetar diretamente a qualidade do medicamento fitoterápico que será utilizado pela população”, alertou.
“Temos muitos erros de identificação das espécies medicinais. Também temos que melhorar muito o controle de qualidade, saber qual é o composto que é importante para a atividade medicinal e terapêutica da planta, e controlar a quantidade desse composto nos medicamentos”, explica. “Se pudermos ter isso de maneira mais exata, clara, e para um maior número de plantas medicinais, com certeza teremos uma maior variedade de medicamentos fitoterápicos no Brasil, mais baratos do que os medicamentos industrializados e sintéticos, de uma maneira mais racional e segura”.
Guaco - A professora da Unicamp também falou sobre a pesquisa que desenvolve com duas espécies conhecidas popularmente como guaco - Mikania glomerata e Mikania laevigata – que são utilizadas pela população no combate de tosses, resfriados e de processos inflamatórios. “Já existem medicamentos fornecidos pelo SUS ou por farmácias, que utilizam o extrato alcoólico dessas duas espécies, principalmente em xaropes”.
Estudos comparativos, realizados por Sawaya e sua equipe, revelam que a quantidade do marcador químico “cumarina” varia de maneira expressiva entre as duas espécies. Segundo Sawaya, os resultados da pesquisa mostram que a M. Laevigata possui um maior teor de cumarina do que a M. glomerata, na qual esse composto químico é quase inexistente. “O que existe é a possibilidade de haver, naquela que não tem a cumarina, mas que a população também usa, outras substâncias ou compostos com atividades terapêuticas semelhantes”, explica.
A pesquisa revelou ainda que a M. glomerata possui um outro composto similar à cumarina, denominado ácido clorogênico. “Ainda não sabemos se ele também seria ativo como anti-inflamatório, ainda não testamos isso”, afirma. “O que concluímos, até o momento, é que as duas espécies não são iguais e, portanto, não podem ser utilizadas da mesma maneira, o que está errado”.
Maria Lúcia Morais - Comunicação/UFOPA
23/7/2014
Momentos da palestra da Profa. Alexandra Sawaya (Unicamp) - Fotos: Maria Lúcia Morais, 22/9/2014.