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UFOPA inicia salvamento arqueológico do Campus Tapajós

Durante o mês de julho, a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) realizará a primeira etapa do salvamento arqueológico do Campus Tapajós, que ocupa parte da área do sítio do Porto, em Santarém (PA). A ação faz parte do projeto “Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico: prospecção e resgate na área de influência direta da construção de diversas estruturas no Campus Tapajós da UFOPA”, que visa a atender à legislação ambiental que protege os sítios arqueológicos do país.

Coordenado pela arqueóloga Denise Maria Cavalcante Gomes, professora do Programa de Arqueologia e Antropologia do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS), o projeto tem permissão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio da Portaria nº 16, de 13 de maio de 2011, para realizar, pelos próximos dois anos, pesquisas arqueológicas na área pertencente ao Campus Tapajós.

“Estamos completamente dentro da lei. Faremos vistoria em qualquer área destinada a construção e, se o local tiver potencial, vamos realizar o salvamento arqueológico antes do início das obras”, explicar Denise Gomes. “Estamos contribuindo para salvaguardar a universidade de problemas com a legislação ambiental. E, como somos arqueólogos e acadêmicos, vamos estudar os vestígios retirados desses locais. Esses são os propósitos do trabalho”.

Nesta primeira etapa serão estudadas duas áreas. “Até o dia 4 de agosto vamos trabalhar em dois locais: a Área 1, que corresponde ao campo de futebol, e a Área 1A, contígua, que corresponde ao viveiro”, explica Gomes. Após a retirada dos vestígios arqueológicos, o local será liberado para construção de novos prédios da universidade.

O levantamento geofísico das duas áreas foi realizado pelo Prof. José Gouvêa Luiz, da Universidade Federal do Pará (UFPA). O estudo apresenta indicações de anomalias com potencial arqueológico, que serão investigadas pela equipe do projeto. “Vamos escavar e retirar amostras dos locais indicados no levantamento”, explica Gomes. “O uso da Geofísica aplicada à Arqueologia é uma inovação metodológica introduzida na UFOPA por incentivo do reitor, Prof. Seixas Lourenço, ele mesmo responsável pelo emprego deste método, com sucesso, nas pesquisas arqueológicas no Marajó na década de 1980”, lembra a arqueóloga.

O projeto também conta com a participação dos arqueólogos Claide de Paula Moraes e Anne Rapp Py-Daniel, professores do ICS, além de alunos da UFOPA selecionados como voluntários. Para o arqueólogo Claide Moraes, além de atender às exigências da legislação ambiental no tocante às obras que causam impacto aos sítios arqueológicos, o salvamento no campus Tapajós visa a produzir conhecimento a respeito das ocupações do passado na área de Santarém, envolvendo a comunidade acadêmica, já com o objetivo de formar futuros profissionais nessa área.

Santarém, um grande sítio arqueológico – Na área urbana de Santarém há dois sítios arqueológicos registrados pelo IPHAN: o da Aldeia e o do Porto. “Essa é uma situação única no Brasil. A cidade de Santarém foi construída em cima de um grande sítio arqueológico”, explica Denise Gomes.

O sítio Aldeia vai desde o centro da cidade, passando por vários bairros, como Aldeia, Santa Clara e Fátima, e se estende até ao bairro do Laguinho, onde sofre uma interrupção. “O Laguinho é descrito pelos cronistas e naturalistas do século XIX como uma área pantanosa, cheia de charcos, o que faz um certo sentido de não ter vestígios. Essa informação coincide com o relato das pessoas mais velhas da cidade”, explica.

Os vestígios arqueológicos voltam a aparecer no sítio do Porto, que se estende pelas áreas portuárias das empresas Cargill e Companhia Docas do Pará (CDP), às margens do rio Tapajós. “Na UFOPA, estamos trabalhando com uma parcela do sítio do Porto”, explica Gomes.

Segundo a arqueóloga, que realizou vários estudos na área central de Santarém, entre os anos de 2006 e 2010, o sítio Aldeia - descrito como uma área densamente povoada pelos cronistas dos séculos XVI, XVII e XVIII - apresenta ocupações com datação de até três mil anos antes do presente. Denominadas de nível cerâmico formativo, as ocupações mais antigas eram mais dispersas, esparsas, de pouca duração, formadas por populações com agricultura e cerâmica incipientes. “Em termos gerais, podemos afirmar que os dois sítios (Aldeia e Porto) tiveram ocupações formativas, que são mais antigas”, explica.

Já a ocupação tapajônica é mais recente, datada entre os séculos XI e XVII depois de Cristo. Caracterizada por cerâmicas elaboradas, como vasos cerimoniais, ela está associada à existência de sociedades complexas, com grande número de pessoas, que começam a emergir na Amazônia. Segundo Gomes, a presença de terra-preta arqueológica é um marcador característico dessa ocupação e de um solo que foi intensamente utilizado por essas populações.

Maria Lúcia Morais - Comunicação/UFOPA
15/7/2011