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Comunitários da Flona Tapajós poderão fabricar móveis com sobras de madeira manejada

Pesquisa avalia a potencialidade econômica e ambiental do aproveitamento de resíduos florestais da colheita madeireira. Caso tenha viabilidade econômica, o estudo favorecerá a produção de móveis nas comunidades tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós que vivem dos recursos naturais da floresta.

Um estudo avaliativo do potencial de aproveitamento de resíduos da colheita florestal das atividades de manejo da Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós (Coomflona), que é composta por comunitários da Unidade de Conservação, irá garantir o fornecimento de madeira de origem legal para a produção de móveis pelos comunitários da Floresta Nacional do Tapajós (FNT), e numa segunda etapa para a cadeia produtiva de móveis dos municípios de Santarém e Belterra, na região Oeste do Pará.

A pesquisa, intitulada “Quantificação e agregação de valor ao resíduo florestal para uso em movelaria na Florestal Nacional do Tapajós”, vem sendo desenvolvido por Renato Bezerra da Silva Ribeiro, ex-aluno da então UFRA Tapajós, em Santarém, hoje, UFOPA, e atualmente mestrando em Ciência Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Com supervisão do Prof. Dr. João Ricardo Vasconcellos Gama, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF/UFOPA), os dados da pesquisa serão apresentados na UFOPA, no dia 12 de março, na sala 109 do Bloco de Salas Especiais, no Campus Tapajós, às 16h.

A ideia de maximizar o uso da madeira a partir do aproveitamento de 1.546,8 m³ de resíduos, isto é, de toda a “galhada” das 21 espécies da floresta, surgiu no ano de 2011, quando o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) incentivou a formação de um grupo de trabalho para desenvolver Ações de Apoio à Cadeia Produtiva Comunitária de Móveis na FNT. “Foi dentro deste grupo que nós decidimos desenvolver uma metodologia que fornecesse informações técnicas e seguras para o manejo deste resíduo. O estudo e o interesse da Coomflona casaram com a minha entrada no curso de mestrado”, lembra Renato Ribeiro.

Segundo Dárlison Andrade, analista ambiental do ICMBio na Floresta Nacional do Tapajós, o grupo de apoio às movelarias percebeu algumas necessidades urgentes quanto ao uso da matéria-prima florestal por parte dos comunitários. “Eles precisavam de matéria-prima com origem legal para trabalhar em suas movelarias. Por conta disso, viabilizamos, dentro do plano de manejo da Coomflona, que já está licenciado há mais de sete anos, a possibilidade de trabalhar o resíduo da colheita florestal. Então, junto com o Renato e com o João Ricardo, pensamos este estudo, que poderá, em curto espaço de tempo, gerar informações e indicadores que permitam o aproveitamento do resíduo florestal com viabilidade econômica e ambiental”, explica o analista.

Atualmente, segundo o Prof. Dr. João Ricardo, pesquisador da UFOPA, toda a “galhada” é desperdiçada, deixada na floresta, e a não utilização destes galhos dificulta o processo de regeneração natural do banco de sementes que fica por baixo dessa fitomassa. “Onde a galhada fica, o processo sucessional da floresta é mais lento, pois ela abafa o banco de sementes, dificultando a dinâmica natural da floresta. Já com o aproveitamento dos galhos que possuem diâmetro igual ou maior do que 20 cm e até 50 cm de comprimento, bitola mínima para o uso na movelaria, nós conseguimos maximizar o uso da madeira, o que traz um benefício econômico, mas também socioambiental para os comunitários que vivem dos recursos da Flona”, explica o professor, que acompanha o estudo.

Etapas da pesquisa

Apesar dos benefícios reais do aproveitamento dos galhos, todas as etapas do processamento da madeira foram sistematizadas por meio da vivência de uma situação real de manejo. Com esses dados, serão estabelecidas diretrizes técnicas para o aproveitamento dos resíduos, fundamentais para a atividade sustentável na Floresta Nacional do Tapajós. “Em 2011, nós fizemos uma quantificação, uma espécie de inventário deste resíduo. Nós usamos estas informações para gerar uma equação que pudesse nos fornecer uma estimativa de resíduo por árvore. Em 2012, nós utilizamos este levantamento inicial, em um relatório, mas infelizmente, não foi possível incluir a equação dentro do Plano de Operação Anual da Coomflona. Contudo, foi agora, em 2013, que realizamos um processo real, retirando este resíduo que faz parte da Autorização de Exploração (AUTEX) da Unidade de Preservação Ambiental (UPA 7), vigente até agosto deste ano. Na verdade, estamos fazendo uma simulação de uma situação de retirada com processamento do resíduo in loco”, explica Renato Ribeiro.

Simulando o manejo

Explicando como se deu o estudo, Renato Ribeiro conta que o processo de produção se inicia com a escolha das espécies. Essa fase de preparação acontece no escritório, onde há o registro das árvores já exploradas. Atualmente, 11 espécies da FNT possuem potencial para o uso em movelaria. “Após a escolha, uma equipe vai para o campo, munida de um mapa já utilizado na colheita de madeira. Essa equipe prepara a área, analisando a “galhada”, observando se a mesma pode ser utilizada como matéria-prima. Os galhos muito finos, rachados ou com ocos são deixados no campo”.

Após essa etapa, entra em ação a equipe de operação de pátio e a equipe do processamento. É esta última que monta a estrutura para a instalação da serraria portátil. Para a realização da pesquisa, a serraria foi licenciada e é ela que corta, ou seja, desdobra a galhada, transformando-a, quando possível, em peças com bitola de 15 cm x 3 cm e com comprimento variável. Após o corte, o resíduo processado é transportado e armazenado no alojamento. São esses resíduos processados que serão doados para as comunidades da FNT.

Atualmente, há cinco movelarias fomentadas pelo já finalizado PROMANEJO – Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentável. Segundo o analista do ICMBio, a pesquisa fornece elementos para justificar a atividade e o licenciamento de uma serraria portátil na Área de Manejo Florestal, e com isso as movelarias terão acesso a matéria-prima de origem legal. “Esta pesquisa está inserida no contexto da gestão da Unidade de Conservação; não é uma pesquisa isolada, está diretamente ligada aos objetivos da Floresta Nacional do Tapajós. Nós temos uma expectativa enorme com os resultados da pesquisa, pois a partir desses indicadores, nós conseguiremos justificar junto ao Ibama o licenciamento da atividade de aproveitamento do resíduo florestal, e com o manejo desses resíduos nós agregamos valor para uma matéria-prima valiosa que ficava “desperdiçada” dentro da floresta”, conclui o analista ambiental Dárlison Andrade.

Talita Baena – Comunicação/UFOPA

12/3/2013