Pesquisa avalia toxidade e risco ecológico de pesticidas em tambaquis
Qual a relação entre as lavouras de arroz cultivadas no Planalto Santareno e a sua saúde? Pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) estão avaliando os riscos ecológicos da exposição de pescado ao herbicida atrazina, largamente usado nas lavouras localizadas nos municípios de Santarém, Mojuí dos Campos e Belterra, na região Oeste do Pará. Santarém lidera a produção de arroz e soja em grão, com a geração de 53 mil toneladas por ano. E os números da lavoura não param por aí, são 36 mil toneladas de soja produzidas anualmente.
“A produção de renda e emprego a partir da expansão das lavouras de arroz e soja trouxe também passivos ambientais preocupantes: o desmatamento de áreas ripárias, uso não planejado do solo e emprego em massa de agroquímicos e pesticidas”. A avaliação é do Prof. Dr. Rui Bessa, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa/ICTA), que – por meio do projeto “Determinação para peixes amazônicos da ecotoxicidade e risco ecológico de pesticidas utilizados em lavouras de soja, milho e arroz” – está ocasionando grau de toxidade numa das espécies de peixe de maior valor comercial e uma das mais consumidas na região, o tambaqui. O estudo recebe apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic).
De acordo com Bessa, os testes de toxicidade aguda são empregados para estimar a toxicidade a partir dos níveis de letalidade ou efeito sobre a capacidade de mobilidade dos organismos, em geral em curtos intervalos de tempo (96 horas) de exposição, dependendo do ciclo de vida do organismo. “Nosso objetivo, neste estudo, é determinar, em peixes regionais, a toxicidade aguda dos compostos orgânicos apolares deltametrina e atrazina utilizados nas lavouras de arroz e soja e milho na Amazônia e que possuam registro no Ministério da Agricultura. Isso permitirá avaliar o risco ecológico, em ambientes aquáticos, destes compostos”.
Novas janelas para pesquisa – Está em execução um projeto de mestrado que objetiva avaliar uma resposta “histológica da formação” da retina desses animais a partir da determinação da toxidade da atrazina, que, de acordo com a pesquisa, aumenta a “vulnerabilidade dessa espécie à predação”.
O estudo está sendo realizado pela estudante Alessandra de Sousa, 22 anos, que desde a graduação, realizada no bacharelado interdisciplinar em Ciência e Tecnologia das Águas do ICTA, interessou-se pelo tema da toxidade. Aprovou o projeto de mestrado “Avaliação do efeito toxicológico da atrazina na retina de alevinos de tambaqui (Colossoma macropono)” no Programa de Pós-Graduação em Recursos aquáticos Continentais Amazônicos (PPG-Racam/Ufopa). Agora, já começa a contabilizar os primeiros resultados.
Conclusões preliminares - “Já estamos concluindo que os pesticidas usados na região influenciam na mortalidade dos peixes. Nos testes concluímos que em concentrações baixas – em comparação às que são usadas no meio ambiente – é capaz de matar uma grande quantidade de peixe”, afirma Alessandra.
“É uma espécie comercial. Nós temos o indicativo de que a literatura já mostra em alguns estudos pelo mundo – que pode acontecer a má formação da retina a partir da exposição a pesticidas. Então, estamos tentando avaliar isso frente à exposição com atrazina”, esclarece o professor Bessa.
Metodologia: Alessandra Silva revela como esses testes estão sendo realizados. “Iniciamos com uma substância chamada dicromato de potássio para saber se os lotes atendiam à resposta do que precisávamos. Depois disso, começamos os testes preliminares para determinar a toxidade aguda para os peixes – que é aquela que dura menos tempo – com o objetivo de saber qual a concentração letal para os organismos. A partir dessa concentração, fazemos as diluições em concentrações menores para saber a toxidade crônica – que é outro teste que tem a duração maior e que visa avaliar qual o efeito dele no organismo do peixe. Nesse caso, é a avaliação da retina”. O teste preliminar foi constituído com cinco concentrações, mais um controle com três repetições por concentração, ou seja, no total são 15 unidades de testes (aquários).
Análise histológica – “Vamos levar em consideração o padrão de organização das células, verificar se o pesticida tem alguma influência nessa retina. A ideia é identificar, através das camadas celulares que têm a mesma organização para outros vertebrados. Será verificada também a ordem de padrão, ou seja, se as células sofreram algum tipo de mutação, se morreram, se estão denegridas. A partir daí, será possível perceber se o pesticida tem influência ou não”.
Parceria com a UFPA – Parte da pesquisa está sendo realizada nos laboratórios da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. “Fazer este estudo é uma grande responsabilidade. Já tivemos contato com pessoas do meio social comum, por meio de uma breve apresentação, e as pessoas entendem a importância do trabalho, elas visualizam que na região em que vivem o herbicida é usado, têm consciência de que o peixe que comem está no mesmo ambiente. As pessoas querem respostas, essa é uma responsabilidade muito grande”.
Texto e foto: Lenne Santos - Comunicação/Ufopa
27/10/2017