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Pesquisas investigam robótica e gamificação como ferramentas pedagógicas

O estudo empírico foi realizado junto a estudantes de escolas técnicas de Santarém

Vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), no âmbito do mestrado acadêmico em Educação, as pesquisas oriundas do Laboratório Oficiber (Proext) trouxeram à tona temas que estão despontando nas rodas acadêmicas. É o caso da robótica educacional livre e das práticas pedagógicas da gamificação. Defendidas recentemente, as dissertações receberam recomendação para publicação.

As pesquisas enfocam questões diretamente ligadas ao ensino técnico na região Oeste do Pará, numa perspectiva científica. Foram pelo menos dois anos de levantamentos bibliográficos e estudos empíricos que resultaram em textos que irão, em breve, compor uma publicação. “As publicações que abordam esses temas ainda são raras aqui na região Norte, como também em outras partes do Brasil”, informou o Prof. Dr. Doriedson Almeida, coordenador do Oficiber e também orientador dos estudos.

Robótica educacional livre - A pesquisa intitulada “Utilização da Robótica Educacional Livre por meio da aprendizagem por projetos: um estudo no curso Técnico em Informática do IFPA/Campus Santarém”, defendida dentro da linha de pesquisa "Práticas Educativas, Linguagens e Tecnologias" pelo professor Rodrigo Sousa da Cruz (IFPA/Santarém), investigou os eventuais benefícios da aplicação de um projeto de aprendizagem em robótica educacional livre no contexto do curso técnico em Informática/Ensino Médio Integrado (CTI/EMI) do Campus de Santarém do IFPA.

Entre outros resultados, o estudo apresenta a exposição realizada com os alunos como parte do Projeto Integrador (PI) “Robótica Educacional Livre do IFPA/Campus de Santarém”. A exposição mostrou detalhes técnicos de três projetos: Caixa d'Água Inteligente, Quarto Maneiro e Robô Educativo Musical. O primeiro propôs a automatização de um reservatório de água. No segundo, o desafio foi apresentar um protótipo para automação de um quarto. No terceiro, os estudantes deveriam construir um artefato robótico que “ensinasse” algo. “A equipe construiu um artefato robótico, através de um aplicativo já desenvolvido por uma participante da equipe, chamado de musicoterapia. Os exercícios contidos nesse artefato deveriam ser utilizados também no protótipo, de maneira que fosse possível fazer alguns movimentos de fisioterapia para as mãos. Além disso, o teclado construído poderia ficar livre para ser tocado e indicaria as notas que estavam também sendo tocadas”, esclareceu Cruz.

Sobre robótica – No estudo, Rodrigo Cruz também tenta desmitificar o sentido de robótica: “Nós associamos a palavra a robô em formato de homem, o humanoide. A nossa abordagem está mais vinculada à questão da automação”. E ele questiona: “O que seria essa automação? Você enxerga um problema no teu dia a dia e propõe uma solução para esse problema baseada nos conceitos da robótica".

O Movimento Maker e sua interface com a educação é outro aspecto da pesquisa. “O maker é o fazedor, está articulado com a prática no processo ensino-aprendizagem”. A nomenclatura é recente, mas o conceito é antigo, enfatiza. “O homem, desde os primórdios da humanidade, sempre utilizou o fazer nos modos de ensino-aprendizagem. Então, a educação make está assentada no fazer”.

As tecnologias da informação e os estudos da docência - O segundo estudo diz respeito à docência, sob o título “Tecnologias da Informação e Comunicação na formação inicial de professores: um estudo das representações sociais e práticas docentes e discentes do Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal do Oeste do Pará( Ufopa)", cujo autor é Luiz Carlos Rabelo Vieira.

Com o aval do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e com base na Teoria das Representações Sociais, a pesquisa identificou as representações sociais e relações a respeito das Tecnologias de Informação e Comunicação no processo de ensino-aprendizagem no Instituto de Ciências da Educação (Iced) da Ufopa. Fizeram parte do estudo 52 professores e 84 universitários.

Eu quis analisar o que pensam os professores e alunos do Iced sobre as tecnologias educacionais que nomeei de TICs. Questionei sobre o modo de uso dessas TICs. Concluí que, no geral, têm uma visão positiva dos recursos, consideram-nos importantes, porém precisam ser mais usados e refletidos criticamente na formação dos futuros professores”, enfatizou Vieira.

Gamificação - Na pesquisa “Gamificação na Educação: uma proposta de framework para práticas pedagógicas gamificadas baseada na teoria da autodeterminação”, Márcio Darlen Lopes Cavalcante problematizou os desafios de investigar práticas pedagógicas.

Um dos principais questionamentos girou em torno da seguinte pergunta: “Como práticas pedagógicas gamificadas podem contribuir para a motivação para o aprendizado significativo dos alunos?” A resposta veio em forma de dissertação: “Busquei entender os jogos digitais e trazer os elementos que são utilizados por esse universo para questões fora do jogo digital, como o ambiente educacional, por exemplo”.

Embasado na interdisciplinaridade, o trabalho reúne pelo menos quatro campos de estudo: Psicologia, Administração, Tecnologia e Educação. “Entre as teorias, a que mais me chamou a atenção foi a da autodeterminação e os seus seis níveis de motivação. Não existe apenas o aluno desmotivado e o internamente motivado. Há também a motivação externa e seus desdobramentos, que não devem ser encarados como algo ruim. Precisamos considerar a competência, a autonomia e o pertencimento nos processos de aprendizagem.”

Realizada junto a estudantes de inglês do curso do Senac Santarém, a pesquisa resultou em um framework – espécie de modelo – disponibilizado numa plataforma online, possibilitando que outros pesquisadores e professores também possam aplicá-lo em novos contextos pedagógicos. “Eu criei um produto, um planejamento visual para os docentes.” O modelo foi aplicado junto ao público escolhido durante três meses. “A conclusão a que eu cheguei foi a seguinte: qualquer coisa que você faça na sala de aula atrai a atenção do aluno. Em suma, os gráficos demonstraram que os níveis de motivação foram altíssimos.”

Outro resultado do trabalho é o que o pesquisador está chamando de “comunidade de prática”: “Qualquer professor pode acessar a plataforma para aplicar em qualquer um dos níveis de ensino, do básico à universidade. E então poderá compartilhar a sua experiência. A ideia é que a plataforma seja utilizada por meio da licença Creative Commons”. O pesquisador reconhece as limitações do framework: “Essa ferramenta não resolve todos os problemas. É um grão de areia num oceano de possibilidades”.

Oficiber - Pelo laboratório de pesquisa Oficiber já passaram pelo menos 50 alunos de graduação e oito mestrandos. Atualmente são quatro pesquisas em andamento. “Aqui são prioridade pesquisas que envolvem as novas tecnologias”, reforçou Prof. Dr. Doriedson Almeida, que também é coordenador do laboratório. Ele faz questão de questionar as políticas públicas de inserção de tecnologias nas escolas.

O modelo de formulação dessas políticas - que foram concebidas ao longo das últimas décadas - não dá conta de atingir o cotidiano escolar com um mínimo de qualidade. Um dos sintomas disso é que boa parte das escolas da rede pública não dispõe de internet ou o serviço é de baixa qualidade. Isso se agrava na região Norte do Brasil e em especial aqui no Baixo Amazonas, dadas as peculiaridades culturais e sobretudo geográficas da região.”

Para Almeida, o assunto é complexo e vai além do simples ato de manusear um equipamento: “Há ainda toda uma questão que transcende ao fato de ter um laboratório bem equipado e uma conexão boa de internet na escola. Há questões que tornam o assunto mais complexo, daí estudos como estes poderão apontar caminhos de que não podemos ter soluções em massa. As soluções têm de chegar a cada lugar se ressignificando a partir das culturas e das realidades locais”.

Lenne Santos - Comunicação/Ufopa

18/5/2017