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Projeto capacita pecuaristas para produção de alimentos em época seca

Projeto capacita pecuaristas para produção de alimentos em época seca

Criadores de gado participantes do curso de silagem. Foto: Arquivo Ibef.

Criadores de gado são treinados a armazenar alimento para o rebanho

Pecuaristas da comunidade Santa Cruz, na margem esquerda da rodovia Curuá-Una, estão sendo beneficiados com o projeto de extensão que vem sendo desenvolvido na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), desde o início de 2014, por três profissionais ligados ao Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef).

O objetivo é viabilizar a qualificação de pecuaristas e seus familiares das comunidades localizadas às margens da rodovia PA 370 (Curuá-Una), em Santarém, e com isso evitar uma série de fatores negativos, a exemplo da migração para região de várzea e a ausência, normalmente, da figura masculina do ambiente familiar.

O projeto começou com levantamento da condição socioeconômica e a ideia é que seja itinerante, devendo percorrer outras comunidades até 2018. A coordenadora, Andréa Vinente, explica que, para torná-lo viável, os idealizadores do projeto buscaram parceria com a Emater, uma vez que o órgão já havia atuado naquela região e assegurado levar cursos aos produtores.

“Nossa ideia casou com a deles. Então, houve o levantamento das condições da pastagem e do sistema produtivo de pecuária e foi verificado que os produtores que moram à margem esquerda da rodovia Curuá-Una têm manejo diferenciado de gado. Foi quando iniciamos os trabalhos para evitar que os pecuaristas se deslocassem para a várzea, abandonando família e levando o rebanho em época de seca, sob alegação de que não havia condições de alimentá-lo. Ensinamos os produtores a armazenarem o alimento, o que proporciona durabilidade por tempo significante, dependendo dos cuidados, sem a necessidade de saírem de onde estão”.

Manter o rebanho onde está, evitando enfrentar as dificuldades da várzea, inclusive a falta de segurança, e valorizar a permanência em casa ou às proximidades dela, foram quesitos destacados no curso destinado aos pecuaristas, que aprendem, sobretudo, a fazer o armazenamento e a manutenção da pastagem que serve de alimento aos animais.

“A ida para a várzea traz uma série de consequências, dentre elas, o furto de gado e acidentes ofídicos. Quando estão com gado na várzea, as atividades deles são voltadas pra aquele ambiente, então deixam a família distante. Levar o projeto de extensão e proporcionar treinamento melhora o manejo do gado e evita essas consequências. Mas existe toda uma questão cultural a ser tratada. Começamos com trabalho de conscientização de que é possível produzir alimentos para a época da menor produção de capim. Esse movimento foi concentrado mais na época chuvosa porque na seca os homens estavam para a várzea. Fizemos trabalho de mobilização para proporcionar o curso de produção de silagem. Inicialmente, foram oito participantes e hoje os frutos começam a surgir”.

A silagem

Os pecuaristas que participam do projeto desenvolvem agricultura e pecuária e tendem a ver a criação de gado como uma poupança. Na comunidade de Santa Cruz, especialmente, os criadores realizam a atividade de forma bastante reduzida, são denominados pecuaristas familiares. Criam os animais para se desfazerem em momentos de emergência financeira. Mas manter essa “poupança” pesa no orçamento na capacidade física de quem embarca na aventura.

Sair da zona rural, de uma região de planalto para a várzea é um movimento complicado, que impacta especialmente na relação familiar. “Por isso, vimos na parte teórica quais as espécies de vegetação que poderiam ser cultivadas e que pudessem ser armazenadas e servir de alimento ao rebanho na época da seca, em que pouco há para alimentar o gado, e desta forma, evitar a retirada desses pequenos pecuaristas de suas localidades”, enfatiza Andréa.

Na segunda etapa foi feita a silagem, por meio de duas experiências: uma em balde e outra em sacos plásticos. Com um mês depois de armazenar a pastagem própria para consumo do gado, a equipe voltou ao local e verificou que houve a formação de uma silagem bem feita e a outra com aspecto ruim.

“A silagem feita nos sacos não ficou boa, pois não houve a vedação necessária, pela presença de ratos que roeram as embalagens; no entanto, a feita em balde ficou excelente. Mostramos as características que precisavam observar para que essa qualidade fosse mantida. Depois colocamos para o gado se alimentar. O capim compactado dentro do balde manteve suas propriedades, e essa está sendo e pode ser a saída para muitos pecuaristas que mantêm o trabalho de deslocamento dos animais na época de seca”.

O capim pode ser cortado para fazer silagem ou feno (capim desidratado e prensado) e assim ser armazenado por um longo período de tempo. Outros projetos estão sendo estudados pela equipe para beneficiar moradores da zona rural, a exemplo da viabilidade de curso de criação de galinha caipira e uso de tecnologia para manipulação de produtos de origem animal.

Os três profissionais envolvidos no projeto são: Andréa Vinente, Fabrizia Otani e Raul Cunha.

Albanira Coelho - Comunicação/Ufopa

6/1/2016