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Pesquisa em neurociências investiga comportamento de peixes amazônicos

Pesquisa em neurociências investiga comportamento de peixes amazônicos

Projeto piloto analisou a traíra.

Investigar o comportamento de peixes para descobrir os impactos nos sinais neurais provocados por fatores que provocam estresse nos animais. Este é o objetivo da pesquisa que está sendo desenvolvida no Laboratório Múltiplo para a Produção de Organismos Aquáticos (Lampoa) do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Ufopa, que vai analisar espécies de peixes da fauna amazônica.

O professor Maxwell Santana, do ICTA, é o responsável pelo estudo, que conta com a participação e colaboração de outros professores daquele instituto - Luciano Jensen, Lincoln Correa, Sâmia Rubielle, da aluna de pós-graduação Milene Vasconcelos e da aluna de graduação e iniciação científica Ana Karolina Santana. De acordo com o pesquisador, para fazer estas avaliações nos peixes da região foi construído um ambiente adaptado para os registros comportamentais dos animais em aquários, por meio do uso de câmeras de vídeos.

“Como a ideia é fazer um estudo comportamental dos animais, vamos filmar os aquários, registrando os indivíduos em diferentes ambientes, e em seguida vamos fazer a reconstrução do movimento do animal”, explica.

Com a pesquisa será possível observar e avaliar padrões comportamentais relacionados à exposição destes animais a diferentes estressores e como estes podem interferir na saúde dos peixes da região. “Organizamos um sistema experimental para observar a biologia do animal com e sem agentes patológicos e fatores estressores como, por exemplo, a ação de parasitas biológicos encontrados na região e que podem influenciar no comportamento e na saúde desses animais”, disse.

Projeto Piloto – Para experimentar a estrutura construída, um projeto piloto já foi realizado. A espécie observada foi a traíra, peixe muito encontrado nos rios e sub-bacias amazônicas. Após as filmagens, os animais passam por eutanásia e os cérebros dos animais coletados são encaminhados para posterior avaliação histológica para a investigação de marcadores neuronais.

Estas atividades desenvolvidas pelo professor Maxwell constituem a implantação, no Lampoa, de métodos de pesquisa em neurociência. Ele conta com a colaboração do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS) e do Instituto Santos Dumont (ISD), localizado na cidade de Macaíba (RN). O IIN-ELS é reconhecido pelas pesquisas em neurociências e em pesquisas com interfaces cérebro-máquina. "O IIN-ELS colabora conosco por meio do uso de ferramentas de análise inovadoras para estudos comportamentais em peixes da região amazônica, os quais fornecem uma nova maneira de analisar diversos parâmetros comportamentais e alterações histológicas. Estas análises auxiliam na busca do entendimento do que ocorre no cérebro destes peixes frente a situações de estresse. Fazemos isso, pois o estudo da base subjacente ao comportamento do animal é agregada com estudos de análises histológicas e neurofisiológica”, explica.

A fase atual da pesquisa iniciada no Lampoa é a análise histológica que está sendo feita em Macaíba. Após concluída, os resultados obtidos na pesquisa serão publicados em revistas científicas.

Rede de colaboração em Biologia experimental

Outro fruto dessa parceria foi a palestra do pesquisador do IIN-ELS, Edgard Morya, doutor em Ciências (Fisiologia Humana) pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), que apresentou os avanços das pesquisas em neuroengenharia, no início do mês de setembro, na Ufopa.

Na palestra, voltada para os estudantes do programa de pós-graduação em Biociências e à comunidade acadêmica da universidade, o professor Edgard Morya apresentou como a investigação em neuroengenharia tem melhorado os resultados na reabilitação de pessoas com lesão medular.

“Apresentamos os trabalhos em neuroengenharia com interface cérebro-máquina e neuromodulação. O desafio da neuroengenharia é, diante das alterações neurológicas, desenvolver as pesquisas aplicadas na sociedade. A neuromodulação é um método de estimulação elétrica do sistema nervoso para modular seu funcionamento. Com os estudos em neuromodulação, fizemos pesquisas com a doença de Parkinson, estimulando a medula espinal e levando a uma diminuição dos sintomas motores. Na interface cérebro-máquina apresentamos resultados inéditos para reabilitação descritos em um artigo recente”, destaca Morya, ressaltando a importância de investimento em pesquisas para a formação dos profissionais de saúde em todo o país. “No ISD, acreditamos que todas as nossas pesquisas, atividades de ensino e saúde devem chegar na sociedade, os conhecimentos não podem ficar presos no laboratório ou em uma região, elas devem chegar em todo o país, não se pode privilegiar apenas uma região”, enfatiza Edgard Morya, ressaltando a iniciativa do professor Maxwell de difundir técnicas de neurociência na Ufopa.

Na Ufopa, a possibilidade da criação dessa rede de colaboração entre o Lampoa e o IIN-ELS tem mobilizado outros pesquisadores em neurociências. “Estamos nos reunindo e dialogando para criarmos um grupo maior de pesquisas em neurociência”, conclui o pesquisador, dizendo que os primeiros passos já foram dados visando à criação de processos de automatização na engenharia de pesca e em outras áreas do conhecimento.

Talita Baena – Comunicação/Ufopa

29/9/2016